Henri T. Lautrec

Henri T. Lautrec
Suzanne Valadon

sábado, 24 de setembro de 2011

Te conheço de algum lugar

Histórias de metrópole - capítulo II

Luiza senta numa cadeira do metrô Consolação e depois de analisar longamente a garota ao lado perguntou: "Vem cá, te conheço de algum lugar?"
Fatal. A outra apenas fingiu que não ouviu, disfarçando o brusco estalo dos olhos.

A outra tinha cara, dois olhos, duas mãos, duas pernas, duas narinas. Devia ter um nome, alguma história (talvez) medíocre. Devia estar num dia bacana, ou não. Devia... Ela desceu no Paraíso.
Luiza desceu na Liberdade.

Já que o Paraíso é perto da Liberdade, vemos que as duas respiram o mesmo ar e estão conectadas ao mundo pelas mesmas centelhas de oxigênio e carbono. Daí a semelhança obscura, relativa e correta entre Luiza e você.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Severina do Itaim Paulista

Histórias de metrópole - capítulo I

Severina, que eu apelidei Severina, mora com a sobrinha que adora dançar forró. Severina adora correr e sempre que pode, corre no parque do Ibirapuera. Severina namora um cara que faz faculdade de madrugada e que trabalha no Morumbi. O namorado, ela e a sobrinha moram no Itaim Paulista (Zona Leste) e ela chega mais rápido de ônibus e de trem em Moema do que se fosse de carro.

Ela gosta de São Paulo e não voltaria pra Fortaleza, onde nasceu, por causa do calor dos trópicos. Severina gosta é de correr e talvez goste da correria de São Paulo. Quiçá ela não gosta de esperar e por isso ela briga com o namorado para ele não buscá-la no trabalho. É o problema do congestionamento, já que ela chegaria até ele antes de ele a alcançar.

Fora isso, ela tem amigas bonitas que fazem academia onde mulheres invejosas tecem comentários sobre a roupa e quanto de gordurinha aumentou das outras mais bonitas... Severina disse que por esses motivos e pelo lugar ser fechado ela prefere correr pelos parques quando pode...

Severina é muito apegada ao pai dela, que já está no céu. E, como eu, acredita que a gente colhe coisas boas se plantamos coisas boas. Ela disse que há gente ruim que é rica e também que é pobre. Eu disse a ela que nosso coração é que leva a gente...

Severina, de rosto marcado pelo Sol de Fortaleza, com os poros sujos de poeira de São Paulo, Severina que não sai sozinha de casa depois das 20h, que diz que o medo impede a gente de fazer um monte de coisa, que diz que o porteiro a chama de madame, que usa roupas alegres e não gosta de andar de salto alto pra poder andar pelas escadarias e calçadas da metrópole, me roubou 40 minutos de cochilo no ônibus Terminal Bandeira quando havia muitas cadeiras vazias e ela quis a do meu lado, que estava minha mochila... Severina desandou a falar de sua vida a mim. E, eu sabendo que isso sempre acontece, que as pessoas mais aleatórias vem a mim contar sua história, e mesmo sem eu saber direito o porque, ouvi as histórias de Severina, comentei-lhe o mínimo, desejei-lhe bom dia e segui meu trabalho. Eu disse: Agora tenho que correr... Bom dia! E ela seguiu atrás e sorriu pra mim.

sábado, 10 de setembro de 2011

Biografia

Escorpiana com ascendente em touro. Filha de Oxalá e Oxum. Brasileira, natural de São Paulo. Pés gordos, teimosa e cabelo crespo. Não passou na fila da altura antes de nascer. Dois olhos em cores diferentes. Apaixonada e prometida.

Gosta de elefantes, cachorros e gatos e na mesma proporção. Cineasta de formação e artista em estudo contínuo. Ganha o pão trabalhando em coisas diversas e principalmente com afazeres de vídeos. Sabe fazer pão mesmo que fique mto duro em poucas horas. Geralmente anda dura. Escreve para alimentar a alma. Como a grana não é suficiente precisa pegar jobs aleatórios como fiscal de prova de concurso público, atendente de telemarketing ou promoção de produtos em supermercados. Realidade. Com um pouco de sorte e persistência conseguirá fazer filmes.

A verdade sobre a vida algum anjo chamado Gabriel lhe contou, mas como é feita de carne e osso não lembra de muito, assim como os segredos que tem que ficar guardados no eterno silêncio da sabedoria.

Bebe chá desde a Era da mamadeira. Fã de chocolate, do sufflair fino ao guarda-chuvinha pobre. Incensos pelo quarto. Computador ligado e mente fértil em imaginação. Quadro do beija-flor na cabeceira da cama. Violão no guarda-roupa. Mesa de luz na tomada. Mochila de viagem sempre semi-pronta.

Acordes de The Doors. Mistura de violino e guitarra. Rabeca e sanfona com as duas mãos que escolhi pra guiar a dança.