Henri T. Lautrec

Henri T. Lautrec
Suzanne Valadon

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Mais uma filha da Luz, envelhecemos.

Fotografia de 02 de novembro de 2011, na minha cômoda, São Paulo.

Mais uma filha da Luz, envelhecemos.

A música dos trovões anuncia a aurora de mais alguns dias.
Pensei
que não veria mais o Sol e o amor que me mostraram.

Mas (h)ouve a Misericórdia cantando!

Estou aqui e a morte nunca me pareceu tão infeliz assim.
Ainda há verde na terra seca dos homens.
Ainda há chuva pra quem clama vida.
Ainda me deram tinta pra escrever sobre a alegria, nas rochas escuras do asfalto.

A esperança está ali detrás das janelas, brilhando nas estrelas do céu acima de nossas cabeças.
E estou aqui fotografando minhas rosas secas em cima da cômoda.
E estou aqui cumprindo mais alguns dias de peregrina, aprendendo, ensinando...
Ando
em permanência de ser-vivo.
Respiro.

Viajarei pro norte só pra ver outra aurora
e agradecerei aos Santos por me devolverem os dias de luta
porque luto meu será só depois dos meus enta.
Guenta que ainda vo pra lá...
(Não por agora, me disseram.)
Rio.
Rio.
Sorriso e mergulhos. Dois Dois, vamos brincar?

["Quando eu morrer
não quero choro nem vela...
Quero uma fita amarela gravada com o nome dela
Não quero flores, nem coroa com espinho
Só quero choro de flauta com violão e cavaquinho!"]
Rio, de Noel Rosa. É pra lá que eu também vou
dançar com meu amor.
E devagar pra ser feliz, porque pressa
é pra quem não aprendeu a ciranda
dos altos e baixos da Roda da Vida
dessa Terra que só gira.

Corre que o planeta continua.
Quem tá parado pelo menos escuta
o mantra sagrado da permanência do silêncio.

Continuo a observar o Todo
assim como se estivesse no topo de uma pedra:
vejo minha imagem jovem
e existo além dela.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Mainha


domingo, 6 de novembro de 2011

Um passarinho deu seu último suspiro nas minhas mãos hoje.

Meu gato mordeu-lhe a fronte de manhã e uma curruíra o chamará de volta pro ninho... Meu pai percebeu o ataque do nosso gato Pepe e tirou o pardal da boca dele. O pardal estava sobre guarda da curruíra e passou pros cuidados de meu pai.
Foi ai que ele me chamou e com uma seringa dei semente de linhaça amassada no bico.
O coitadinho ficou ao meu lado no quarto durante cerca de uma hora, quando lhe dava mais comida e ele suspirou fundo, abrindo a asa para voar de novo.
Eu acolhi seu corpo pequeno nos dedos e na palma da mão, aquecendo-o com o algodão e soprando quente pra tentar fazer ele abrir os olhos... E ele abriu, meio que dizendo obrigado e depois ficou imóvel. Sem respirar ele ficou menor ainda do que era.
Abri a porta do quarto com os olhos em prantos e entregando o pequeno nas mãos do meu pai, que foi o coveiro.
Foi o segundo passarinho que acolho tentando salvar. Podem aparecer quantos forem que, até minhas mãos gelarem, elas darão calor e água.

Então, meu pai me contou que na época que ainda não havia ambulâncias do SAMU, ele e umas pessoas que passavam na estrada ajudaram um homem e seu cavalo que foram atropelados por um caminhão. O homem morreu nas mãos de meu pai.
Homem e passarinho talvez suspirem da mesma forma segundos antes de morrer. Suspiros de que quando chega a hora, resta apenas fechar os olhos.
E a gente chora por eles...