Henri T. Lautrec

Henri T. Lautrec
Suzanne Valadon

segunda-feira, 6 de maio de 2013

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Cura gay

Curandeira do amor,
me faça amar mais e não menos.

Cura esse coração
alegre rebelde inquieto
que não para de sorrir.

Cura a quem o sexo não é por amor.
Cura a inveja por quem ama bem.
Cura a crueldade da miséria...

...Os miseráveis do egoísmo
os surdos com bons tímpanos
os insensíveis com bons olhos
Osmarditos de boca rôta.

Que esta minha roupa de alma
seja só ossos com vida pulsante
a desejar o insosso amor plausível.

Minha arma é meu pescoço,
a artéria latente por feijão.
Temos fome de felicidade,
de prato cheio e livro recheado.
Ama a quem ama que não ligamos não.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Papa mulher

De repente uma luz e uma fumaça branca roubam a atenção das nuvens no céu do Vaticano. Uma senhora preta de cabelos grisalhos e com uma flor amarela presa na orelha suspira fundo.
- Escolheram a mim para representar a energia criadora na Terra dos homens. Disseram que eu era adequada, mas duvidei. Ninguém enfim, merece esse destino porque cada um tem seu próprio valor como ser vivente. Lidar com a responsabilidade de estar vivo é sabedoria e escolha do coração e mente de nós mesmos.
O silêncio sepulcral parece dar fim à milênios de dogmas, mas ela continua em sua fala mansa.
- Vocês falam tanto num cara que pregou o amor e era abnegado às coisas materiais... Pois eu vos digo que cada um tem o direito de amar quem quiser, como quiser. Amor em seu sentido pleno de respeito ao outro: ame e seja amado. Amor significa também compaixão pela dor do outro; não brinque com o sentimento dos outros. Ame seu pai, sua mãe, seus irmãos. Proteja sua família com humildade de valorizar seu emprego. Ame quem você escolher para ser seu companheiro ou companheira. Ser gay não é crime. Anjos não têm sexo. E o amor é muito mais do que os cromossomos X e Y podem significar na Natureza.
- Ser mulher, preta, homem, branco, velho, novo, rico, pobre tanto faz. Experimente morrer e encare sua velha ossada. Compare com a dos outros. Perceba, ela é exatamente igual. Não nos diferimos em nada um do outro, a não ser pelo nosso caráter, formado pelo desejo do coração e ações comandadas pelo cérebro.
- Somos máquinas, animais com mamas e completamente sentimentais. Encarem os fatos. Poeira cósmica que infestou o mundo e não respeita os animais. Somos imperfeitos em busca de sermos melhores a cada nascer do Sol. Renovem-se e vejam que apesar de todas essas semelhanças, sois diferentes.
- Cremos em deuses com nomes, vestes e atitudes diferentes, mas somos seres tão imperfeitos que não conseguimos ver que é a mesma energia de que estamos falando: a energia que faz um bebê nascer, que faz a flor de lótus brotar do lodo, que perdoa o outro. Dentro de cada um, por fora das Galáxias. O que move toda essa física comportamental se não o Amor?
Então a velha senhora sorriu e, sem dar as costas, se juntou aquele monte de gente que voltou pra casa pra fazer a janta.
O novo papa (mama) apátrida, assim, instaurou uma centelha de paz mundial.

A mama apátrida

De repente uma luz e uma fumaça branca roubam a atenção das nuvens no céu do Vaticano. Uma senhora negra de cabelos grisalhos e com uma flor amarela presa na orelha suspira fundo.
- Escolheram a mim para representar a energia criadora na Terra dos homens. Disseram que eu era adequada, mas duvidei. Ninguém enfim merece esse destino porque cada um tem seu valor como ser vivente. Lidar com a responsabilidade de estar vivo é sabedoria e escolha do coração e mente de nós mesmos.
O silêncio sepulcral parece dar fim à milênios de dogmas, mas ela continua em sua fala mansa.
- Vocês falam tanto num cara que pregou o amor e era abnegado às coisas materiais... Pois eu vos digo que cada um tem o direito de amar quem quiser, como quiser. Amor em seu sentido pleno de respeito ao outro: ame e seja amado. Amor significa também compaixão pela dor do outro; não brinque com o sentimento dos outros. Ame seu pai, sua mãe, seus irmãos. Proteja sua família com a humildade de valorizar seu emprego. Ame a quem você escolher para ser seu companheiro ou companheira. Ser gay não é crime. Anjos não têm sexo. E o amor é muito mais do que os cromossomos X e Y podem significar na Natureza.
- Ser mulher, negra, homem, branco, velho, novo, rico, pobre tanto faz. Experimente morrer e encare sua velha ossada branca. Compare com a dos outros. Perceba, ela é exatamente igual. Não nos diferimos em nada um do outro, a não ser pelo nosso caráter, formado pelo desejo do coração e ações comandadas pelo cérebro.
- Somos máquinas, animais com mamas e completamente sentimentais. Encarem os fatos. Poeira cósmica que infestou o mundo e não respeita os animais. Somos imperfeitos em busca de sermos melhores a cada nascer do Sol. Renovem-se e vejam que apesar de todas essas semelhanças, sois diferentes.
- Cremos em deuses com nomes, vestes e atitudes diferentes, mas somos seres tão imperfeitos que não conseguimos ver que é a mesma energia de que estamos falando: a energia que faz um bebê nascer, que faz a flor de lótus brotar do lodo, que perdoa o outro. Dentro de cada um, por fora das Galáxias. O que move toda essa física comportamental se não o Amor?
Então a velha senhora sorriu e, sem dar as costas, se juntou aquele monte de gente que voltou pra casa pra fazer a janta.
O novo papa (mama) apátrida, assim, instaurou uma centelha de paz mundial

quinta-feira, 7 de março de 2013

Ai que tenho

Ai ai que ando a
ranger os dentes
até os ossos
caírem contentes.

Revejo a  morte a dormir
no travesseiro dos outros,
mimando o som da rua
e o sepulcro cotidiano.

Ai que tenho de me ignorar a vida
antes que o fim me separe
em fagulhas explícitas de ego
e o mar me agarre e eu derreta
e nunca mais nade
e mais nada eu respire
sem me importar.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Zéfiro

A espontaneidade do vento
na sobrancelha dela,
nos pêlos da perna dele.

Voam sem pressa e ficam presas
nos cabelos, as folhas
tiradas sem jeito no nó traçado pelo vento.

ZÉ, preFIROOOO
sua estadia singela sempre surpreendente.
Me abra os olhos,
deixa meu rosto gelado.
Quero teu abraço liberto de vontade
rápido como raio rasgando o céu.

Zé, firo tua brisa ao fechar a janela
ao tirar a música do frio, da varanda, da louça suja...
ao tirar o embaraço da cabeça
ao prender o que deve ser dito.

E o que falta, perde-se no echo da cornucópia
volta num bumerangue
pra sempre no instante eterno

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Esteja pronta

O ancião do outro lado da rua estava sentado na calçada quando falou comigo. Eu estou pronto para a morte e você também devia estar.

Quem não ficaria atônito ao ouvir isso? Respondi com uma caída de queixo e a imobilização súbita dos músculos dos membros principais.

Ele cuspiu qualquer coisa no asfalto. Eh, já está com o blazer de madeira. E riu, palhaço de si mesmo.

Dei a costas e o cara não estava mais lá. Havia somente o brilho do cuspe grudado próximo à guia.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

PESTILENTO V

Eh, o cobertor limpo era como seda sobre as pernas, embora não tenha encostado muitas vezes naquilo. Viu alguma em calcinhas pelo chão, por aí...

Ele se alimentou de luz naquela noite e foi de vela porque a Eletropaulo já tinha cortado tudo. Todos tinham vazado, afinal de contas.

Torto de frio. Mas tinha o cobertor de nome Dignidade. Dignidade o aquecia e estava ali na sua cola, como o amigo bom ou o filho icorrigível que carrega o bebum, acalentando. Todo mundo precisa de dignidade, pelo menos de vez em quando.

Fui naquela sala uma vez e dormi com Dignidade sob um teto. E aquele cara pestilento que não pagou a luz me mandou embora. Disse que não era ciúmes, é só porque eu não combinava com seda. Na real, eu tava cagando pra moda.