Henri T. Lautrec

Henri T. Lautrec
Suzanne Valadon

terça-feira, 8 de julho de 2014

Paracetamol

Paracetamole viver.

A gente que vive de comprimido pra viver,
A gente que anestesia dor com a própria dor,
A gente que pinta a pele com hematoma,
A gente que alucina com febre,


Pra gente há remédio.

Tem gente que sangra com corte de amor,
Tem gente que grita com crack à furor,
Tem gente que congela de medo ao abismo de si.
Tem gente que assiste o jornal nacional.

Pestilento VII

- Me dê uma carona para o inferno?
Estava silêncio em seu quarto. Até que é bacana falar sozinho e ele sacudiu o travesseiro e dormiu tranquilamente.

O inferno parecia sossegado, cheio de penas de ganso morto e janelas quebradas. O inferno de sua mente não pedia licença nem cuidado. Obrigado. De nada. Obrigado. De nada. Obrigado. Obrigado. Obrigado sempre a ser educado. Que grande inferno ser intimado às boas maneiras por toda vida. Por toda maldita vida, viver na linha. Na linha do abismo de ser um nada inútil e ser aquele gentleman que atravessa a rua olhando para os dois lados.