Ela não tinha fome nem anseios. Sua alegria era doses na veia. Aos 13 foi colocada debaixo de um caminhoneiro como pagamento da morte de alguém e desde então seguiu seu caminho infeliz.
Ela não tinha mais família nem conceitos. Mas, fumava seu cigarro enquanto analisava o pôr-do-sol.
Embriagada pela cerveja barata do bar, pelos hálitos torpes dos bêbados caídos, ela também caía. Caía nas camas sem lençóis, nos corpos enlaçados de suor e luxúria e nas calçadas, às vezes... quando a valentia ultrapassava os limites da dignidade.
Não passaria dos 22. Ela sabia. Muito magra e pálida como construções pastéis. Cabelos longos em trancinhas, uma feição de menina que agradava os homens. Não beijava na boca e seu anúncio estava colado em telefones públicos.
Ela não era pública. Do seu salário devia 30 por cento para o velho de barbas brancas e barriga gelatinosa. Ele era asqueroso e sugava esse dinheiro como também seus seios.
Vivia com outras, onde dormia de vez em nunca, tomava banho e lavava as próprias calcinhas. Amigas eram suas meias não furadas, os sapatos brilhantes que não doloriam os pés e a maquiagem pesada, que pesava mesmo era na existência.
A noite era sua alforria. Os lábios contorciam em sorrisos, as pernas tremiam e a respiração se refazia. Vendia seu sexo em troca de mais. Se parava de pensar sobre, a agulha penetrava-lhe, como uma imensa dose de apatia e bem-estar.
Se o vento lhe provocasse a nudez, arrumava a saia, porque sabia que a simulação era mais provocativa e sensual. Ela simulava sua vida, como um sonho e permanecia nele assim, sempre a alcançá-lo.
"Para não ser um desses escravos martirizados pelo Tempo, embebede-se, embebede-se sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha." C. Baudelaire.
Henri T. Lautrec
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quarta-feira, 17 de setembro de 2008
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