Surpresa. Às crianças restam as músicas entorpecentes e as palmas de coordenação motora. "Feliz aniversário", alguns balbuciaram, gritaram, lembraram. Mas, aquele pequeno mais velho estava no canto central da mesa, paquerando o bolo. Tenso. Todos os pequenos se entreolhavam belicosos. Acabaram os pequenos doces em cima da mesa e às crianças sobraram migalhas de açúcar, além, é claro, do grande edifício de chocolate recheado com doce-de-leite sob a vigilância de quatro grandes cerejas em moscatel por cima.
As luzes se apagaram. Uma grande vela se acendeu, como se queimasse a fio cada segundo de ansiedade de cada um ali. Incrivelmente todos os pirralhos ficaram em silêncio. Nenhuma da pessoas grandes se tocou e percebeu que aquilo era anormal. Palmas mecânicas e sorrisos ferozes. O garoto a quem o desejo do primeiro pedaço pertencia ameaçou encostar o Pai de Todos... ZÁS. A mulher de vestido de bolinhas vermelhas deu mais uma ordem chata, desviando suas mãos em palmas à palma da bunda do filho. O inferno. O garoto se recusou a soprar a velinha. A garota do lado chutou-lhe a canela em protesto. Mal ele abriu o berreiro, três moleques atacaram o bolo com seus caninos famintos de gente precoce atacada. As cerejas rolaram para fora da mesa.
Que massada, disse o garoto embaixo da mesa, lambuzando a chuteira nova com as cerejas. E jamais quis saber de receber "feliz aniversário" novamente.
"Para não ser um desses escravos martirizados pelo Tempo, embebede-se, embebede-se sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha." C. Baudelaire.
Henri T. Lautrec
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domingo, 14 de junho de 2009
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