Um dia pensei que não podia mais sonhar e a única meta era caminhar sem destino. Então, passei a caminhar observando os pedregulhos das calçadas. De cabeça baixa, por certo, mas só pra que nenhuma pomba me cagasse na cabeça. Observando tudo e a todos numa espécie de joguete em que eu dava nomes as pessoas, fui me tornando alheia ao que se passava fora da janela dos olhos, mas de algum modo mantinha algo de sensível que me perguntava o que eu faria se fosse algum deles; e me apontava com dedos de pensamento.
Ora, se eu fosse nativa em outra língua, ou se tivesse nascido em Nunavut, ou se não tivesse o sentido da visão desde o nascimento poderia eu ser realmente diferente do que sou? Cadê essa essência que perdura e não me é tocável por nenhum sentido?
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