Henri T. Lautrec

Henri T. Lautrec
Suzanne Valadon

sexta-feira, 7 de julho de 2017

O lado onírico da vida. Parte I

Eu dirigia o carro UNO 98 com minha mãe ao lado. Eu não estava no banco do motorista, mas não-me-pergunte-como, eu dirigi e estacionei bem. Certifiquei-me que todos os gatos, gatas, cachorros e criança que eu e minha mãe cuidávamos estavam dentro do carro... Menos o Feiticeiro.

Sai do carro e me falaram que o Feiticeiro estava por ali. E o vi atravessando a rua sem olhar, num olhar reto, predestinado. Feiticeiro, minha jaguatirica interior. A pelagem era de onça pintada, mas o corpo de gato doméstico. Indomável, independente, seguro de si mesmo, sensualíssimo na pelagem, na cauda. Eu o admirei e ele pulou na sacada do primeiro andar daquele sobrado antigo. Parece que ouvi minha mãe me chamar e olhei para o lado. O gato havia se transformado numa linda mulher negra e eu continuava a chamá-la de Feiticeiro...

- Vou ficar por aqui mesmo. Já decidi. Não quero sair de Campinas.
- Mas a gente não consegue voltar logo pra cá pra te buscar.
- Vou seguir meu caminho. Estou bem aqui...

Dei um sorriso e sai... Sai do meu sonho. O carro deu lugar ao cobertor da noite fria de São Paulo, minha cidade cinza e nostálgica. São Paulo, cidade hostil que eu nasci, que me deu família, algumas oportunidades e uma vontade imensa de degustar novos lugares.

Feiticeiro, minha mulher, minha jaguatirica interior que toma decisões e apenas dá o bote.