Henri T. Lautrec

Henri T. Lautrec
Suzanne Valadon

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Zéfiro

A espontaneidade do vento
na sobrancelha dela,
nos pêlos da perna dele.

Voam sem pressa e ficam presas
nos cabelos, as folhas
tiradas sem jeito no nó traçado pelo vento.

ZÉ, preFIROOOO
sua estadia singela sempre surpreendente.
Me abra os olhos,
deixa meu rosto gelado.
Quero teu abraço liberto de vontade
rápido como raio rasgando o céu.

Zé, firo tua brisa ao fechar a janela
ao tirar a música do frio, da varanda, da louça suja...
ao tirar o embaraço da cabeça
ao prender o que deve ser dito.

E o que falta, perde-se no echo da cornucópia
volta num bumerangue
pra sempre no instante eterno

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Esteja pronta

O ancião do outro lado da rua estava sentado na calçada quando falou comigo. Eu estou pronto para a morte e você também devia estar.

Quem não ficaria atônito ao ouvir isso? Respondi com uma caída de queixo e a imobilização súbita dos músculos dos membros principais.

Ele cuspiu qualquer coisa no asfalto. Eh, já está com o blazer de madeira. E riu, palhaço de si mesmo.

Dei a costas e o cara não estava mais lá. Havia somente o brilho do cuspe grudado próximo à guia.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

PESTILENTO V

Eh, o cobertor limpo era como seda sobre as pernas, embora não tenha encostado muitas vezes naquilo. Viu alguma em calcinhas pelo chão, por aí...

Ele se alimentou de luz naquela noite e foi de vela porque a Eletropaulo já tinha cortado tudo. Todos tinham vazado, afinal de contas.

Torto de frio. Mas tinha o cobertor de nome Dignidade. Dignidade o aquecia e estava ali na sua cola, como o amigo bom ou o filho icorrigível que carrega o bebum, acalentando. Todo mundo precisa de dignidade, pelo menos de vez em quando.

Fui naquela sala uma vez e dormi com Dignidade sob um teto. E aquele cara pestilento que não pagou a luz me mandou embora. Disse que não era ciúmes, é só porque eu não combinava com seda. Na real, eu tava cagando pra moda.