Henri T. Lautrec

Henri T. Lautrec
Suzanne Valadon

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

É a pura verdade.

A tentativa lúdica de existir me leva a existência rarefeita e complexa.

(Da série: desengavetar os sentidos)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A Barbie peluda me criou

Eu era a princesa loira
eu era a mais bonita
eu era magra e bem-sucecida.

Tinha vestidos,
tinha amigas
tinha carro, casa e namorado.

Mas a boneca de pelúcia de cachorro
era gorda e peluda
e ela ia no circo
e ela tinha duas orelhas
e eu costurei o olho
e ela era travesseiro
e eu mordia
eu girava no chapeleiro maluco
e ela dormia comigo.

A Barbie que eu fui
perdeu o brinco
perdeu a orelha
O cabelo até ficou duro
mas tinha olho tão bonito!

Da Lili eu costurei o olho
guardei no armário.

A Barbie eu dei,
era fria.

O plástico era duro,
mas ela sorria.
A Lili era grande,
era amiga.

Eu sou mais peluda,
por causa da Lili.
Mas se fosse Barbie,
nem parava em pé!

Não tenho carro, nem casa nem Barbie.
Mas ainda tenho a Lili.
E to toda costurada que nem ela.
A Lili foi mais minha Barbie
do que a Barbie foi minha.

Com a Lili eu dava abraços
com a Barbie eu tentava ser quem eu não era.

Pestilento II

Pensei que seria fácil comer aquele pãozinho com manteiga. Era só um pãozinho na manteiga! Mas o gosto do podre do fungo azul era bem desnecessário para a combinação chá com mel. Naquela manhã joguei pão fora. Os pássaros não aceitariam o salgado, ou aceitariam? Estava é com preguiça de ir até eles, e se viessem a mim enxotaria porque uma pessoa que não gosta de pássaros é como qualquer outra. Não gosto de livros também, e daí? Não gosto de bolacha recheada como de ideologias inúteis que teorizam pessoas vazias.

Naquela manhã eu teria que trabalhar, mas era doce saber que chovia e que fazia frio e que as canelas não andariam porque estariam congeladas. Um telefonema anunciando falta de pernas justificaria ausência, certo? “Onde você foi para que estivesse com pernas congeladas?” No inferno, porra! Será que não percebem que não gosto também de justificativas?

Gosto de sossego, aquele do sofá e televisão ligada. Gosto de pizza quentinha, cheia de cebola torrada. Gosto da várzea da neblina, que envolve a preguiça e me dá apatia do não-movimento...

São três da madrugada... não sei o que faço aqui em frente a essa tela.

Do Pestilento

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

risco

Clarice Lispector

"a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena"