passagem 1.
Janela do ônibus - noite
menina de 4 anos
mãe de 26 anos
MENINA (aponta)
- Mãe, olha. Seu sonho ali.
MÃE
- O quê?
MENINA
- Seu sonho. Você não queria um carro preto assim, bonito?
MÃE
- É... queria...
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passagem 2.
Pinheiros. Meia-noite.
estudante, 20 anos
prostituta, 20 anos
Garota demora ao encontrar rua após estar no glamour (sucks) de um festival de cinema.
Ao pisar nas piores calçadas da madrugada, vai de encontro ao olhar de uma garota da mesma idade. A primeira tem medo dos homens e tenta fazer com que se celular faça menos barulho para não chamar atenção, a outra também tem medo dos homens e arruma a mini-saia porque o vento a faz chamar mais atenção.
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passagem 3.
Cachaçaria para classe média
ambiente com jovens e famílias
Uma menininha de 3 anos começa a chorar e gritar. Como é 2 horas da manhã, presume-se que ela tem sono e está exausta. Mas, a besta da mãe liga o lap-top e faz ela escolher um desenho animado para distrair a filha.
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passagem 4.
Casa Verde. Atacadista. Natal.
supermercado lotado
Mulher de grande porte briga com outra e batatas graúdas são arremessadas.
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passagem 5.
Casa do vizinho. Final de novembro de 2008.
Vizinho esquizofrênico não toma remédios e esquece constantemente de trancar o portão de casa. As cadelinhas fogem. Hanne nunca mais voltou e deixa saudades.
............................................................
passagem 6.
Cachoeira invadida
Jovens amigos
Um carro com 5 jovens amigos para um carro de um casal de velhinhos para perguntar o paradeiro de uma suposta cachoeira na região.
JOVEM 1 (abaixa o vidro do motorista)
- O senhor sabe onde fica a cachoeira?
SENHOR (apontando)
- Ah, sei. É pra lá ó.
A SENHORA sorri e faz sim com a cabeça
JOVEM
- Obrigado
SENHOR
- Mas eu não acho que vocês devem ir pra lá não viu?!
JOVENS
- Por que?
SENHOR
- A cachoeira tem dono. É fulana de tal (...). E além disso já morreu gente lá. Só estou avisando.
............................................................
passagem 7.
lar de jovem casal
esposa dorme
garoto e garota conversam
GAROTO
- Eu te entendo. É como se todos os dias tivessem apenas aquele mesmo céu cinza.
............................................................
passagem 8.
sala
mãe e filha trabalhando
FILHA
- Olha ali o beija-flor de novo
MÃE
- Lindo né? Vem todos os dias!
FILHA
- Vou lá tirar uma foto.
E a filha faz um desenho dele, que ficou assim:
(Da série: desengavetar os sentidos)
"Para não ser um desses escravos martirizados pelo Tempo, embebede-se, embebede-se sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha." C. Baudelaire.
Henri T. Lautrec
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sábado, 21 de fevereiro de 2009
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Pestilento I
O pestilento
Vivo na fina lembrança de uma memória já finda. Um outono de merda, calor todo o dia. Livros empilhados, rabiscos em notas engorduradas e uma tigela com ração já com formigas.
Saí, mas era noite e o ar lúgubre me fez mal. Muita fumaça daquela gente pestilenta e torpor do cafézinho lá da esquina.
Tive náusea com a mulher de pele branca que me serviu; ojeriza com as cadeiras mal postas e certa identificação com o banheiro, água estagnada cheirando a usado.
Na rua as vadias não me largavam o saco e tive que deixá-las na penumbra triste do consolo "n'outra hora".
Não tenho mais dentes. Não sou casado. minha cadela morreu. Minha televisão pifou. Não lembro mais a ordem destes fatos, nem quando, nem como aconteceram... Tem certas coisas que não valem mesmo a pena serem lembradas.
Lixo pela sala. Lixo as unhas e há pedaços de carne moída pelo tapete, agora. A cerveja caiu também no tecido. Tudo bem, ela estava quente.
Amanhã eu vou comprar ração para Billie. Billie é minha cadela. Amanhã eu vou comprar flores para Vera. Sou desconexo. Não tenho mais o endereço de Vera. Gostaria de flores pra mim, afinal.
Mamãe teria orgulho se ainda tivesse minhas cadelas. Meu pai estaria na guerra e eu já estou na minha. EuXeu. Estou aqui buscando o vácuo.
Os bêbados têm simpatia por mim. Deve ser meu casaco cheio de caspas. Deve ser porque sou um deles. Eles pedem meu cigarro e compartilho sempre. Se o fogo acaba, há um jeito. Os bêbados de vida, na verdade, nunca se reconhecem. Não sou um deles. E, se fosse, acho digno.
Dormi no sofá. A cama já era meio lençol cinza-amarronzado e era o cabide ideal, o closet exposto, servil e lotado. Ela tinha vida própria, mandou-me dormir no sofá. Eu não cabia ali. Ela tinha vida própria. Eu ja não tenho a minha.
Perdi meu emprego, eu acho. Não apareço há um mês. As cartas não leio. Telefone cortado. Constipado, pego um lenço. Caiu na sarjeta, pela janela. Ótimo, falaram-me para tomar cuidado com as calçadas. Não dei ouvidos. Não dei nada e meus bolsos ainda estão vazios.
O pestilento.
Vivo na fina lembrança de uma memória já finda. Um outono de merda, calor todo o dia. Livros empilhados, rabiscos em notas engorduradas e uma tigela com ração já com formigas.
Saí, mas era noite e o ar lúgubre me fez mal. Muita fumaça daquela gente pestilenta e torpor do cafézinho lá da esquina.
Tive náusea com a mulher de pele branca que me serviu; ojeriza com as cadeiras mal postas e certa identificação com o banheiro, água estagnada cheirando a usado.
Na rua as vadias não me largavam o saco e tive que deixá-las na penumbra triste do consolo "n'outra hora".
Não tenho mais dentes. Não sou casado. minha cadela morreu. Minha televisão pifou. Não lembro mais a ordem destes fatos, nem quando, nem como aconteceram... Tem certas coisas que não valem mesmo a pena serem lembradas.
Lixo pela sala. Lixo as unhas e há pedaços de carne moída pelo tapete, agora. A cerveja caiu também no tecido. Tudo bem, ela estava quente.
Amanhã eu vou comprar ração para Billie. Billie é minha cadela. Amanhã eu vou comprar flores para Vera. Sou desconexo. Não tenho mais o endereço de Vera. Gostaria de flores pra mim, afinal.
Mamãe teria orgulho se ainda tivesse minhas cadelas. Meu pai estaria na guerra e eu já estou na minha. EuXeu. Estou aqui buscando o vácuo.
Os bêbados têm simpatia por mim. Deve ser meu casaco cheio de caspas. Deve ser porque sou um deles. Eles pedem meu cigarro e compartilho sempre. Se o fogo acaba, há um jeito. Os bêbados de vida, na verdade, nunca se reconhecem. Não sou um deles. E, se fosse, acho digno.
Dormi no sofá. A cama já era meio lençol cinza-amarronzado e era o cabide ideal, o closet exposto, servil e lotado. Ela tinha vida própria, mandou-me dormir no sofá. Eu não cabia ali. Ela tinha vida própria. Eu ja não tenho a minha.
Perdi meu emprego, eu acho. Não apareço há um mês. As cartas não leio. Telefone cortado. Constipado, pego um lenço. Caiu na sarjeta, pela janela. Ótimo, falaram-me para tomar cuidado com as calçadas. Não dei ouvidos. Não dei nada e meus bolsos ainda estão vazios.
O pestilento.
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