Henri T. Lautrec

Henri T. Lautrec
Suzanne Valadon

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mito do reinado Solidão

run blur




Martírios em martelos
Nas ruas de Solidão.
Tenho no casco o Destino
de ser Sebastião.

Meu reinado perdido
Em Portugal ficou a sede,
Sou mito em quadro.

E jaz a Névoa em Cruz.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Mais uma filha da Luz, envelhecemos.

Fotografia de 02 de novembro de 2011, na minha cômoda, São Paulo.

Mais uma filha da Luz, envelhecemos.

A música dos trovões anuncia a aurora de mais alguns dias.
Pensei
que não veria mais o Sol e o amor que me mostraram.

Mas (h)ouve a Misericórdia cantando!

Estou aqui e a morte nunca me pareceu tão infeliz assim.
Ainda há verde na terra seca dos homens.
Ainda há chuva pra quem clama vida.
Ainda me deram tinta pra escrever sobre a alegria, nas rochas escuras do asfalto.

A esperança está ali detrás das janelas, brilhando nas estrelas do céu acima de nossas cabeças.
E estou aqui fotografando minhas rosas secas em cima da cômoda.
E estou aqui cumprindo mais alguns dias de peregrina, aprendendo, ensinando...
Ando
em permanência de ser-vivo.
Respiro.

Viajarei pro norte só pra ver outra aurora
e agradecerei aos Santos por me devolverem os dias de luta
porque luto meu será só depois dos meus enta.
Guenta que ainda vo pra lá...
(Não por agora, me disseram.)
Rio.
Rio.
Sorriso e mergulhos. Dois Dois, vamos brincar?

["Quando eu morrer
não quero choro nem vela...
Quero uma fita amarela gravada com o nome dela
Não quero flores, nem coroa com espinho
Só quero choro de flauta com violão e cavaquinho!"]
Rio, de Noel Rosa. É pra lá que eu também vou
dançar com meu amor.
E devagar pra ser feliz, porque pressa
é pra quem não aprendeu a ciranda
dos altos e baixos da Roda da Vida
dessa Terra que só gira.

Corre que o planeta continua.
Quem tá parado pelo menos escuta
o mantra sagrado da permanência do silêncio.

Continuo a observar o Todo
assim como se estivesse no topo de uma pedra:
vejo minha imagem jovem
e existo além dela.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Mainha


domingo, 6 de novembro de 2011

Um passarinho deu seu último suspiro nas minhas mãos hoje.

Meu gato mordeu-lhe a fronte de manhã e uma curruíra o chamará de volta pro ninho... Meu pai percebeu o ataque do nosso gato Pepe e tirou o pardal da boca dele. O pardal estava sobre guarda da curruíra e passou pros cuidados de meu pai.
Foi ai que ele me chamou e com uma seringa dei semente de linhaça amassada no bico.
O coitadinho ficou ao meu lado no quarto durante cerca de uma hora, quando lhe dava mais comida e ele suspirou fundo, abrindo a asa para voar de novo.
Eu acolhi seu corpo pequeno nos dedos e na palma da mão, aquecendo-o com o algodão e soprando quente pra tentar fazer ele abrir os olhos... E ele abriu, meio que dizendo obrigado e depois ficou imóvel. Sem respirar ele ficou menor ainda do que era.
Abri a porta do quarto com os olhos em prantos e entregando o pequeno nas mãos do meu pai, que foi o coveiro.
Foi o segundo passarinho que acolho tentando salvar. Podem aparecer quantos forem que, até minhas mãos gelarem, elas darão calor e água.

Então, meu pai me contou que na época que ainda não havia ambulâncias do SAMU, ele e umas pessoas que passavam na estrada ajudaram um homem e seu cavalo que foram atropelados por um caminhão. O homem morreu nas mãos de meu pai.
Homem e passarinho talvez suspirem da mesma forma segundos antes de morrer. Suspiros de que quando chega a hora, resta apenas fechar os olhos.
E a gente chora por eles...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Alvorada

Menina, a brisa lá fora
já te namora, então
deixe cá teus espinhos
do caule os caminhos
que florescerá.

Te torna doce,
o vento a acalmar
o céu da multidão.

Andorinha a voar
ensina que com pena torta
também se equilibrará.

sábado, 24 de setembro de 2011

Te conheço de algum lugar

Histórias de metrópole - capítulo II

Luiza senta numa cadeira do metrô Consolação e depois de analisar longamente a garota ao lado perguntou: "Vem cá, te conheço de algum lugar?"
Fatal. A outra apenas fingiu que não ouviu, disfarçando o brusco estalo dos olhos.

A outra tinha cara, dois olhos, duas mãos, duas pernas, duas narinas. Devia ter um nome, alguma história (talvez) medíocre. Devia estar num dia bacana, ou não. Devia... Ela desceu no Paraíso.
Luiza desceu na Liberdade.

Já que o Paraíso é perto da Liberdade, vemos que as duas respiram o mesmo ar e estão conectadas ao mundo pelas mesmas centelhas de oxigênio e carbono. Daí a semelhança obscura, relativa e correta entre Luiza e você.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Severina do Itaim Paulista

Histórias de metrópole - capítulo I

Severina, que eu apelidei Severina, mora com a sobrinha que adora dançar forró. Severina adora correr e sempre que pode, corre no parque do Ibirapuera. Severina namora um cara que faz faculdade de madrugada e que trabalha no Morumbi. O namorado, ela e a sobrinha moram no Itaim Paulista (Zona Leste) e ela chega mais rápido de ônibus e de trem em Moema do que se fosse de carro.

Ela gosta de São Paulo e não voltaria pra Fortaleza, onde nasceu, por causa do calor dos trópicos. Severina gosta é de correr e talvez goste da correria de São Paulo. Quiçá ela não gosta de esperar e por isso ela briga com o namorado para ele não buscá-la no trabalho. É o problema do congestionamento, já que ela chegaria até ele antes de ele a alcançar.

Fora isso, ela tem amigas bonitas que fazem academia onde mulheres invejosas tecem comentários sobre a roupa e quanto de gordurinha aumentou das outras mais bonitas... Severina disse que por esses motivos e pelo lugar ser fechado ela prefere correr pelos parques quando pode...

Severina é muito apegada ao pai dela, que já está no céu. E, como eu, acredita que a gente colhe coisas boas se plantamos coisas boas. Ela disse que há gente ruim que é rica e também que é pobre. Eu disse a ela que nosso coração é que leva a gente...

Severina, de rosto marcado pelo Sol de Fortaleza, com os poros sujos de poeira de São Paulo, Severina que não sai sozinha de casa depois das 20h, que diz que o medo impede a gente de fazer um monte de coisa, que diz que o porteiro a chama de madame, que usa roupas alegres e não gosta de andar de salto alto pra poder andar pelas escadarias e calçadas da metrópole, me roubou 40 minutos de cochilo no ônibus Terminal Bandeira quando havia muitas cadeiras vazias e ela quis a do meu lado, que estava minha mochila... Severina desandou a falar de sua vida a mim. E, eu sabendo que isso sempre acontece, que as pessoas mais aleatórias vem a mim contar sua história, e mesmo sem eu saber direito o porque, ouvi as histórias de Severina, comentei-lhe o mínimo, desejei-lhe bom dia e segui meu trabalho. Eu disse: Agora tenho que correr... Bom dia! E ela seguiu atrás e sorriu pra mim.

sábado, 10 de setembro de 2011

Biografia

Escorpiana com ascendente em touro. Filha de Oxalá e Oxum. Brasileira, natural de São Paulo. Pés gordos, teimosa e cabelo crespo. Não passou na fila da altura antes de nascer. Dois olhos em cores diferentes. Apaixonada e prometida.

Gosta de elefantes, cachorros e gatos e na mesma proporção. Cineasta de formação e artista em estudo contínuo. Ganha o pão trabalhando em coisas diversas e principalmente com afazeres de vídeos. Sabe fazer pão mesmo que fique mto duro em poucas horas. Geralmente anda dura. Escreve para alimentar a alma. Como a grana não é suficiente precisa pegar jobs aleatórios como fiscal de prova de concurso público, atendente de telemarketing ou promoção de produtos em supermercados. Realidade. Com um pouco de sorte e persistência conseguirá fazer filmes.

A verdade sobre a vida algum anjo chamado Gabriel lhe contou, mas como é feita de carne e osso não lembra de muito, assim como os segredos que tem que ficar guardados no eterno silêncio da sabedoria.

Bebe chá desde a Era da mamadeira. Fã de chocolate, do sufflair fino ao guarda-chuvinha pobre. Incensos pelo quarto. Computador ligado e mente fértil em imaginação. Quadro do beija-flor na cabeceira da cama. Violão no guarda-roupa. Mesa de luz na tomada. Mochila de viagem sempre semi-pronta.

Acordes de The Doors. Mistura de violino e guitarra. Rabeca e sanfona com as duas mãos que escolhi pra guiar a dança.

domingo, 28 de agosto de 2011

A lei do karma

É possível modificar as leis fluidas naturais do karma com ações não acompanhadas por cobiça, resistência ao Bem maior ou à ilusão material. Sendo fluido, modifica o tempo todo e transforma, metamorfoseia sentimentos e caminhos.

Ode ao perdão

"
Nada me prende
com amarras fixas da mente.
Meus amores me enlaçam
com brancas fitas de cetim.

Festim de dias e noites,
abraços eternos. Ternura sem fim.

Pro lodo, flores de lótus.
Pro enterro de máguas,
cravo e jasmin.
Pra cura, canto de éter
roseiras e alecrim.

Violinos, piano e harpa.
Contra-baixo e viola.
Compassos em saxofone
com harpas, na Quilombola.
Stacatto. Mi.
Sinfonia. Lá.

"

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Keep walking




Singer. Vila Madalena.
Registro meu em agosto de 2009, com companhia do grande amigo Sandro Acrisio.

sábado, 20 de agosto de 2011

pata-de-vaca

Em troca do ar sujo, de gritos, das más condutas, do trânsito, dos corpos pesados das vidas dos seres humanos as árvores estressadas florescem.
A delicadeza de uma pétala é tão cruel...

Jardim do Déio. Novembro de 2011



sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Sândalos

Me diz o que eu faço aqui fora
Procuro um abrigo.

Eu peço, estou com frio.
O que faço com esses pés fora de mim
Buscando caminhos pra perto do teu coração?

Longe de tudo eu sei onde vou
sem conhecer como faço pro infinito ir.
Tateio o vento.

Prosseguir eu sinto. Devo.
Sigo as cordas bambas das mãos
Infinitas pontas sinuosamente insinuantes
Sândalos.

sábado, 18 de junho de 2011

Epitáfio

Não morrerei de tristeza, ou de palidez por não ir ao Sol.
Não morrerei de medo de chuva, granizo ou do Homem.
Ficarei viva por afeto e sabedoria, guardada num canto de livro ou pétalas de flor

Entre as estrelas e o ar,
Entre as ondas e estradas,

Estarei liberta onde o vento me soprar
levitando os pés do palco a vinteequatro
quadros com tintas de paredes
em segundos de rodapés de página.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dói


Meu ser partido em mil
lascas de manias, quebrado
Cortante. Cortado.

Almas diversas que em mim habitam
escorrem em cacos de fotografias.

O corpo assim jogado a mil ângulos
deglutidos
fica a mercê do tempo

Envelhece passado nesta luz da manhã
Num eterno movimento dentro de si mesmo.




(Não sei de quem é a foto.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Tratado da coragem

Acredito ser o ócio a me dar calafrios ao fim de alguns dias de outono. Resolvi, então, partilhar o o "Tratado da Coragem".
A estes escritos dou como fim a prática da coragem como única terapia par escalar-se muros. É simples e não tem maiores segredos a não ser aqueles que estão enterrados dentro de ti.

Número 1: No espelho seu auto-reflexo dá nítida imagem de quem você parece ser. Teça alguma conversa de perguntas e respostas. Ao fim se um minuto capaz que você se irrite, mas então agradeça-se e deseje-se um bom dia. Perdoe-se.

Número 2: respeite a manhã. o dia acorda com o Sol e as flores florescem pelo dia... Desperte-se, mesmo que sentado à cama e que não tenha compromissos exteriores. Acredite, o universo interior é bem mais penoso aquele ao qual a retina reflete, deixe que o dia lhe tire as poeiras seculares.

Número 3: É mentira quando outros dizem que tuas ações irão dar mesmo errado. Na maioria das vezes irão mesmo dar errado e por isso tem-se que levar a sério as opiniões dos mais sábios. Dos mais sábios. Todavia, se se nem você acredita que pode morar em Estocolmo, realmente não pode. E, na verdade, nunca irá poder, pois a mente projeta teus desejos para o exterior e a confiança irá te levar onde quer que queira.

Número 4: Não use o poder de desejar e mentalizar ovelhas condecorando cercas para fragilizar outros. Isso é cuspir para cima e não posso ser mais clara.

Número 5: A coragem é pisar no lodo de si próprio, limpar os pés e tentar arrumar os sapatos. Frustração, decepção e aniquilamento de si mesmo irão inevitavelmente ocorrer. Quiçá todos os dias. mas a coragem do auto-conhecimento poderá fazer com que você se perdoe e veja em si pequenos valores. Creia em si. 90% da população mundial crê em alguns tipos de deuses e ajoelham por eles pedindo todo o tipo de mistérios. Peça a você primeiro, também.

Número 6: Coragem é uma arma que irá lhe atiçar as onças das sinapses e mantendo-a constante alçará voos plenos. Não deixe, contudo, que teu ego lhe leve para mundos mais longínquos aos que te amam. Voltar é sempre difícil e o mais importante é alçar longos voos dentro de si mesmo, sempre descobrindo-se.

Número 7: Tenha coragem de desejar mais coisas espirituais que materiais. A sabedoria é caminho penoso tanto quanto financiamento pela Caixa Econômica. Não irão enterrar teus ouros com você, a não ser que seja Tutancamon. De qualquer forma o ouro e teu corpo ficariam inertes, mesmo reluzindo dourado... O espírito que aprendeu o perdão e o valor da simplicidade da Natureza continuará na mutação. Todo o Mundo precisa da coragem da larva que descobre-se borboleta.

quinta-feira, 10 de março de 2011

vai, não sê gauche.

Todos os dias
enfrentas tempestades,
dúvidas assombradas,
melancolias submersas,
maremotos profundos de ausências...

Todos os dias a alma pena
à pena torta
a ser alguém.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Zarpando ao lodo

Tudo está vivo, inteligível, desconhecido.
Deuses ainda sopram as bordas do mapa,
levando-nos pelos rios, afundando-nos nas ondas.

Zarpamos ossos dos barcos.
Cinzas azulam os olhos, pixelados em vitrines.
Suores noturnos, diurnos, inquietos valem poucos xelins.
Carrascos e imundos dinheiros perturbam o ócio.

Caimos da proa no azulejo frio, cheirando a crack.
E nada você enxerga.
A opacidade do ser egoísta é calar-se ao lodo,
rezando pra que Alah ainda cuspa em seu destino.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Inquietude rastreada

Um dia pensei que não podia mais sonhar e a única meta era caminhar sem destino. Então, passei a caminhar observando os pedregulhos das calçadas. De cabeça baixa, por certo, mas só pra que nenhuma pomba me cagasse na cabeça. Observando tudo e a todos numa espécie de joguete em que eu dava nomes as pessoas, fui me tornando alheia ao que se passava fora da janela dos olhos, mas de algum modo mantinha algo de sensível que me perguntava o que eu faria se fosse algum deles; e me apontava com dedos de pensamento.

Ora, se eu fosse nativa em outra língua, ou se tivesse nascido em Nunavut, ou se não tivesse o sentido da visão desde o nascimento poderia eu ser realmente diferente do que sou? Cadê essa essência que perdura e não me é tocável por nenhum sentido?